A Stereo dessa semana poderia elencar as melhores músicas para se ouvir em um apagão, como o que atingiu o Norte e o Nordeste nesta quarta-feira (21). Poderia indicar a melhor trilha sonora para os ministros Barroso e Gilmar Mendes fazerem as pazes no pleno do Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda poderia colocar em pauta a oitava semana de “God’s Plan” do Drake no primeiro lugar da maior parada musical do mundo, quando ninguém parece ter ouvido a música. Apesar da semana quente de assuntos, vou me permitir prender essa coluna mais uma semana em um assunto: Marielle Franco
A execução da vereadora carioca certamente chocou o país que passou a cobrar respostas para o crime bárbaro. Entre Temer, o interventor Braga Neto e a polícia do Rio de Janeiro, nenhum pedido de posicionamento nas redes sociais foi tão forte, na última semana, quanto o feito com a cantora Anitta. Depois de tanta pressão, a dona do hit “Vai Malandra” se colocou e teve que retirar o que pensava logo em seguida, por novamente desagradar a internet com o sua opinião.
O lugar de fala de um artista de entretenimento, em casos que já contam com ampla cobertura da mídia, é limitado. Existe um erro imenso no processo quando se cobra de um artista, uma resposta que deveria ser dita por uma fonte que realmente está lá para isso. Figuras ligadas à segurança pública, ao governo e, principalmente, aos candidatos presidenciáveis deste ano.
Não existe espaço político vazio. Por mais que seja benéfico um pronunciamento da Anitta sobre Marielle Franco, que defendesse as origens que ela diz que se orgulha, colocar tanto peso na fala da cantora, indica uma crise identitária: No Brasil, o brasileiro não sabe por quem é representado em questões que vão além do mainstream.
Há mais tempo sem falar do assunto do que Anitta, o pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL), também não se pronunciou sobre o caso. O motivo? A assessoria do deputado acreditou que a opinião seria “polêmica demais”. Ninguém pareceu achar importante saber o que considera um dos prováveis presidentes do país sobre o assassinato a sangue frio de Marielle. Metade da pressão feita em Anitta, em quem realmente deve falar sobre o assunto, poderia ter implodido a candidatura do ex-militar. Talvez fosse mais fácil, em determinado momento, descredibilizar o trabalho de Anitta sobre valorização da favela no entretenimento, do que a pré-candidatura de Bolsonaro.
E o que disseram os outros candidatos a presidente e deputado neste ano? Certamente, mais que Anitta, são eles que têm os caminhos para solucionar e evitar que um caso como esse aconteça novamente. Verdade seja dita, na grandiosidade da situação que envolve a execução de Marielle e o que ela expõe sobre o Brasil, não importa o que a Anitta falasse aos 45 do segundo tempo. A fala dela só serviu para uma coisa: frustrar um grande grupo de pessoas que estava cobrando respostas das pessoas erradas
A Stereo é uma coluna opinativa e não obrigatoriamente reflete as opiniões do Cinesia Geek