Quem me conhece sabe que o primeiro Círculo de Fogo, filme de 2013, é um dos meus maiores comfort movies. Com uma premissa simples, personagens que, mesmo sem profundidade, não são caricatos e cenas de ação incríveis, não há muito o que mudar na fórmula do longa para que tenhamos um filme divertido e que não exija muito – ou nenhum – esforço do público.
Círculo de Fogo: A Revolta, porém, cometeu o erro que diversas continuações cometeram. Ao tentar acrescentar profundidade a personagens que não deveriam, o filme tenta se levar à sério, ao mesmo tempo em que não investe em um bom roteiro para fazê-lo. Sem conseguir alcançar o nível de um filme mais profundo e sem conseguir honrar a divertidíssima estupidez que são lutas de robôs contra monstros, o longa se perde entre tentar superar o primeiro filme ou tentar repetir sua fórmula.
A primeira razão para isso é a mudança de personagens. O ator Charles Hunman (Raleigh Bennet) se retirou do filme devido a conflito de agenda, e a atriz Rinko Kikuchi, que interpretou Mako Mori, volta ao longa num papel que é um repeteco daquele feito por Idris Elba. Os dois personagens da franquia que retornam com papeis de importância são os cientistas Hermann e Newton – e são justamente à eles que o filme quer adicionar profundidade, sem sucesso.
É claro que devemos ressaltar que a ideia de Newton ter ficado louco depois de entrar em conexão com um kaiju no primeiro filme foi uma ótima ideia. Mas isso poderia ter sido apresentado sem colocar o personagem numa posição de vilania, que não combina com seu histórico. Além disso, o filme perde um alívio cômico extremamente necessário, já que os novos personagens não conseguem o tom despreocupado que o público esperava.
Para aquele que esperam de John Boyega (Jack Pentecost, no filme) uma atuação boa como em Star Wars, não criem esperanças. O ator não mostra química com seus colegas: é impossível comprar a rixa entre Jack e Lambert ou a relação de amizade com Amara, ou ainda sua relação de irmandade com Mako. No final, se os roteiristas tivessem abraçado o quão clichê o personagem é, o resultado poderia ter sido bem melhor. Como o foi no primeiro filme, onde nenhum dos personagens é um exemplo de originalidade, mas pelo menos divertem o público.
As cenas de ação poderiam ser um bote salva-vidas para Círculo de Fogo, mas, novamente, o filme falha. Mas em Círculo de Fogo 2, o erro pode ter sido – e eu nunca pensei que diria isso – tentar tornas as cenas de ação mais reais. O mínimo que qualquer pessoa deseja ver em uma luta entre ROBÔS e MONSTROS é imaginação. Explosões e raios lasers sempre são mais condizentes, nesse caso, do que jabs ou tentativas de afogamento. Não perceber isso estragou diversas cenas que poderiam ser mais empolgantes. A luta final é mais interessante, já que finalmente temos um kaiju em cena, mas não vale pelo filme todo.
Não sei se todos concordarão comigo, mas alguns filmes são ótimos justamente por que não o são. O primeiro Círculo de Fogo tem tudo que precisamos para ter duas horas de diversão sem pensar: boa ação, explosões, história simples, personagens rasos, momentos divertidos. O segundo peca na ação, tenta acrescentar profundidade aos personagens errados, complica a história sem necessidade e tem pouquíssimos, se não nenhum, momentos engraçados. Círculo de Fogo: A Revolta tentou ser superior ao primeiro. Com maior orçamento, melhores atores e mais expectativas, só conseguiu ser uma continuação sem sal.