Sabe quando anunciaram a Miss Colômbia como vencedora do Miss Universo 2016 ou ainda “La La Land” como o ganhador do Oscar de melhor filme em 2017? Quando “25” da Adele ganhou o grammy de melhor álbum da Beyoncé, a sensação que ficou era que se tratava de outro erro do gênero. Não é a toa que, em seu discurso de agradecimento, a britânica se questionou: “O que diabos a Beyoncé precisa fazer para ganhar álbum do ano?”. O “Lemonade” da Queen B era o favorito da categoria depois que o “Beyoncé” perdeu o prêmio para o – aleatório – Beck em 2015 e mais uma vez lançou um trabalho progressista.
Quem também não gostou nada do resultado deste Grammy foi o Drake. O rapper apontou racismo no fato de que sempre acabava indicado em categorias de rap/Hip Hop, enquanto seus trabalhos “Hotline Bling” e “One Dance” foram grandes sucessos da música pop. O problema para o canadense estava na academia separar os artistas brancos dos negros por meio de categorias segmentadas como “urbanas”. Diante do cenário, muitos cantores passaram a boicotar a premiação na campanha “Grammy’s so White”. No ano passado, por exemplo, Frank Ocean e Drake escolheram não submeter seus trabalhos para a disputa.
Entretanto, na contramão do passado e na sintonia de outras premiações como o Oscar, a academia da indústria fonográfica resolveu mudar o rumo do prêmio na nova edição e anunciou o Grammy mais preto da história. Jay Z (8 indicações) e Kendrick Lamar (7) e o cantor Bruno Mars (6) lideram a lista de indicações, enquanto na categoria álbum do ano, 4 dos 5 indicados são artistas pretos. Algo inédito para a história do Grammy. Concorrem ao gramophone mais importante Childish Gambino (com “Awaken, My Love!”), Jay Z (“4:44”), Kendrick Lamar (“DAMN.”) e Bruno Mars (“24K Magic”). O azarão da noite será única artista branca na categoria: Lorde e o seu “Melodrama”.
O grande acerto do Grammy em 2018 não será entregar o troféu da noite para o Jay Z como uma pedido de desculpa às avessas para a Beyoncé. A chave da mudança está em reconhecer artistas negros para além da segmentação urbana das categorias rap, hip hop e R&B. O Drake estava certo. Indicações como o Gambino pelo seu experimental “Awaken My Love” na categoria principal ou de artistas como SZA e Khalid em revelação (não somente em R&B), mostram um passo a frente no caminho rumo a igualdade por chances iguais, pelo menos no Grammy.
No próximo domingo, o Grammy 2018 tem a chance de fazer a coisa certa mesmo se o azarão “Melodrama” ganhar o prêmio da noite. A questão nunca será sobre prêmios isolados, mas sobre entregar reais chances iguais de reconhecimento na disputa. De nada adianta entregar 20 prêmios urban para a Beyoncé se não quiserem legitimar o quanto a cantora negra revolucionou o mercado da música como álbum do ano.
Menção honrosa: Childish Gambino não tem chances de ganhar alguma coisa com o álbum e “Redbone”, música indicada, mas esta é uma ótima oportunidade para conhecer o rapper ator que é MARAVILHOSO.
Faixa bônus: Pessoalmente é maravilhoso para mim a esnobada que deram no Ed e na Taylor. Nenhum dos recentes trabalhos dos artistas são lá essas coisas. Paz para minha Lorde que entregou um dos melhores álbuns do ano e que pode sim ganhar a categoria.