Depois de ser aclamado no Festival de Toronto, “Me Chame Pelo Seu Nome” finalmente chega aos cinemas brasileiros, nessa quinta-feira (18). Tido como um dos favoritos ao Oscar, o filme já coleciona várias indicações às premiações que antecedem a cerimônia da Academia.
Adaptação da obra literária de André Aciman, o filme se passa no verão de 1983, em algum lugar no norte da Itália. Elio (Timothée Chalamet) costuma passar as férias de verão lendo livros ao ar livre e transcrevendo músicas clássicas nas belas paisagens italianas, quando eles recebem a visita de Oliver (Armie Hammer), pesquisador de 24 anos que ajuda seu pai em estudos sobre a cultura greco-romana.
Com um subtexto riquíssimo e um elenco competente, é errôneo categorizar Me Chame Pelo Seu Nome apenas como um romance gay. O filme vai muito além do que explorar apenas o amor entre duas pessoas do mesmo sexo. É uma história sobre o amadurecimento sexual, sobre a autodescoberta, a conquista de novas experiências e o vigor que um grande amor traz em vida. O foco aqui é a relação emocional que existe e os efeitos desses sentimentos nos dois personagens.
O filme não se encaixa nos padrões comerciais. Não é uma historia que tenha um grande vilão ou um grande problema a ser resolvido. Ele fala de um amor de verão que é esse amor intenso e rápido. É aquele amor que se vive muito forte, mas ao mesmo tempo, o tempo é o grande vilão da historia. Em uma conversa dos protagonistas, Elio questiona: “por que não aproveitamos todo esse tempo?”.
Toda essa construção do romance entre Elio e Oliver é feita de uma forma muito natural. “Me chame pelo seu nome que te chamarei pelo meu”. Assim, de uma forma bem delicada, os dois amantes se despem de seus medos e receios que os seguravam e se entregam a esse amor de verão. Eles se declaram não mais pertencem a si mesmos, mas a partir daquele instante, um faz parte do outro. Doando seu bem mais pessoal, o próprio nome.
O diretor Luca Guadagnino acerta em suas opções estéticas. Ele aborda sem pudor o sexo e a sexualidade de seus personagens e situações, mas longe de ser algo pornográfico ou explicito. Assim como no livro, no filme, nós vemos as coisas pelo olhar do Elio e por isso que o diretor faz questão de que, o espectador se apaixone por aquele homem, com seu porte atlético, sua inteligência presente, o seus cabelos loiros e seu jeito único de falar “Até mais”.
A direção de Guadagnino, juntamente com a fotografia de Sayombhu Mukdeeprom, aliado com planos mais abertos, permite que os personagens se movimentem livremente dentro do quadro e estabeleçam uma mise-en-scène naturalista e voyeurística. A gente está ali apenas acompanhando aquele amor acontecer.
Além disso, o diretor usa a disposição dos quartos de Elio e Oliver para comentar sua relação, os mantendo lado a lado, porém separados por paredes e portas que, mesmo que sempre abertas, não deixam de demarcar os espaços ainda separados habitados por cada um deles.
Ainda que Armie Hammer faça uma de seus melhores atuações, a grande revelação é mesmo Timothée Chalamet, em uma performance envolvente. – sua atuação foi tão boa que já conquistou alguns prêmios no lugar de atores mais experientes como, Gary Oldman por O Destino de uma Nação.
Quem também está ótimo é o ator Michael Stuhlbarg, que interpreta o pai de Elio. O monólogo que ele entrega numa das cenas finais está entre um dos melhores momentos do filme.
Me Chame Pelo seu Nome não faz um manisfesto politico, nem levanta nenhuma bandeira, é um testemunho de um momento específico da vida que ficará marcado na memória dos que viveram e dos que sentiram esse amor. Um dos questionamentos do filme, retirado de “L’Heptaméron”, escrito por Marguerite de Navarre: “é melhor morrer ou falar?”. Ao final da película fica a lição: não tenha medo de amar.