Stereo | “Wait” é a prova definitiva que o Maroon 5 parou de tentar

Victor Fonseca
4 Min de Leitura

Se existe uma frase da internet que é erroneamente atribuída a Clarice Lispector, mas que pode bem definir a atual fase do Maroon 5 é aquela que diz “Não estou vivendo, estou apenas seguindo”. O novo vídeo da banda para o seu mais recente single “Wait” é a prova de que o grupo desistiu de tentar.

No clipe, Adam Levine – e somente ele – faz caras e bocas com filtros do snapchat enquanto se filma na vertical. De produção tão preguiçosa, parece que nem o trabalho de assistir às aulas de tio William Bonner ensinando a fazer vídeos em formato para TV rolaram.

O novo vídeo, porém, é apenas a ponta do iceberg da lagoa de marasmo que estamos falando. Arrisco dizer que esse processo começou lá em 2010, após Adam e sua trupe ficarem extremamente decepcionados com o fracasso do disco “Hands All Over”, trabalho que demorou 5 anos para ficar pronto. Preocupados em hitar novamente, a sucessora “Moves Like Jagger” deu um pontapé para que a banda iniciasse sua caçada por sucessos em um estilo pop mais comercial.

Mas como uma hora a corrida cansa, o novo estilo adotado no “Overexposed”, que parecia ter chances de ir além em “Jagger”, apenas desembocou em um Maroon 5 que se repete infinitas vezes. “Red Pill Blue”, nome do mais recente trabalho da banda que também nomeia um famoso grupo de anti-feministas nos Estados Unidos, apresenta diferentes versões da mesma música. Sobre o nome, o vocalista disse que nem percebeu a coincidência. Ocupado fazendo clipes ele não estava.

Se musicalmente as coisas vão mal, na videografia se intensificam. Há tempos costumo separar os clipes do Maroon 5 em dois grupos distintos: simples demais para serem lembrados ou produções com muito dinheiro, mas sem roteiro. Entre histórias que não fazem sentido como as vistas em “Payphone” e “Maps”, campanhas usadas de desculpa para captar imagens de fãs em “Daylight” ou até o fiasco que foi “This Summer”, o exemplo que eu mais gosto de citar é o de “Don’t Wanna Know”. Inspirado em – pasmem – Pokemon Go, o clipe apostou na genial ideia de que apenas reproduzir a moda do momento entregaria um sucesso viral.

Ideia parecida, que eu saiba, só quem teve foi Inês Brasil no seu clipe de “Umdererê”, que, inclusive, tem um roteiro melhor.

Quando surgiu em 2002, o Maroon 5 cantava sobre liberdade de expressão e criatividade. “Harder to Breathe”, um dos primeiros sucessos da banda, é uma alfinetada na gravadora que queria se intrometer nos rumos que os artistas tomariam. Hoje, em uma espécie de piloto automático, chega a dar pena comparar o clipe de “Wait” com obras como “Never Gonna Leave This Bed”. Tente. É deprimente como uma frase falsa de Clarice Lispector.

Menção Honrosa: Tente ver até o final sem querer desesperadamente fazer outra coisa 

Faixa Bônus: O clipe de “Animals” até que seria legal se não incentivasse stalkers.

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Estudante de Jornalismo, mas formado em medicina após 14 temporadas de Grey's Anatomy. Viciado em séries e amante do cinema.
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