Imagine que em um dia tranquilo e como qualquer outro, sua melhor amiga resolve te contar uma super novidade: Ela está namorando. Com um cara gato. Que na verdade não é bem humano, mas… Um vampiro.
Teatro de Vampiro, da carioca Chiara Ciodarot, possui dois grandes trunfos: sua protagonista e suas referências. O ceticismo de Thaís, a protagonista, é sem sombra de dúvida o ponto chave da história. Com um humor ácido e sarcástico, ela é cética até a última página, fugindo muito daquela ideia convencional de mocinha humana que acha um vampirinho solitário por ai.
De Edward brilhante e o Lestat gostosão, até as mil versões do Drácula e tantas outras histórias de vampiros contadas nos últimos séculos… Tudo isso você encontrará aqui. A protagonista conhece todas as possibilidades vampiricas que o pseudo-vampiro Gustavo, novo namorado de Marieanne, sua melhor amiga, pode inventar, então ela não é apenas cética sobre a situação toda, mas sempre tem um comentário ácido sobre praticamente que o garoto faz e diz.
Thaís se torna uma personagem com a qual é muito fácil se identificar. No meio das risadas, facilmente você acaba se perguntando: Se fosse comigo eu não faria ou diria algo assim? Ela possui todo esse conhecimento pop que grande parte da população tem sobre vampiros nos dias de hoje, ainda mais depois de Crepúsculo. E esse é o segundo trunfo.
As referências, que em sua maioria são voltadas a mitologia vampírica, é muito bem executada no livro. Nos faz lembrar de muitos filmes e livros mais antigos (e até se interessar por alguns outros), contribuindo muito para a construção da personagem e o andar da história em si.
O livro no entanto peca um pouco com o desfecho. As linhas finais do livro na verdade foram sensacionais, porém seu final estilo Inception, deixando o leitor decidir qual a verdade sobre seu fim, abre brechas gritantes na história no momento em que se recapitula o que aconteceu no meio do livro. No fim percebemos que as chances desse final aberto ter 90% de chance ser apenas um é enorme.
Isso porque, apesar da mitologia vampírica aqui fugir do convencional, aquilo que não é explicado sobre a biologia dos vampiros, mas especificamente sobre o que uma mordida vampira causa em um humano e como (e se) um humano pode se transformar em vampiro, deixa os leitores trabalharem com o que tem em mãos. Com isso, ao juntar os vários acontecimentos ao decorrer do livro, a sensação dúbia estilo Inception vai pendendo rapidamente para um dos lados.
A verdade é que esse livro lembrou muito uma história que daria um ótimo episódio de séries do tipo de Twilight Zone. E isso é um elogio. Teatro de Vampiro pode afastar alguns leitores pela sua sinopse e por muitos estarem um pouco saturados de ler sobre vampiros, porém é bastante divertido e até mesmo viciante, no estilo “eita, o que vai acontecer agora?” que alguns livros que escolhemos a esmo têm.