Anunciado na E3 de 2014,Cuphead criou uma enorme expectativa graças ao seu estilo visual único inspirado em desenhos animados da década de 30. Mais tarde descobrimos que o game seria um run and gun(corra e atire) no melhor estilo de clássicos como a série Contra, muito popular nos anos 80 e 90. A promessa se concretizou em um título único que combina artes muito estilosas com jogabilidade desafiadora como é raro de se ver hoje.
Na trama Cuphead e seu irmão Mugman moram num local mágico chamado Inkwell Isle, sob os cuidados de Elder Kettle. Um dia eles se aventuram muito longe de sua casa, entram no Cassino do Diabo e começam a ganhar uma série de apostas. Até aí tudo bem, tirando o detalhe que os irmão são canecas, Kettle é uma chaleira e o gerente da casa de apostas é um dado. Ah, e todos os conflitos começam a se desenrolar quando Cuphead perde sua alma e a de seu irmão numa aposta com o próprio Diabo. Uma história que é tão simples, surreal e moralmente duvidosa quanto os desenhos animados em que se inspira.
A partir daí, nossos (agora) anti-heróis ganham uma segunda chance do Diabo e precisam coletar algumas almas para manter as suas. Elas deverão ser retiradas à força dos 18 chefões do game. Ao derrotá-los na maior dificuldade, o jogador obtém seus contratos.
A ambientação do título é maravilhosa, mesmo que simples. São 3 ilhas (Inkwell Isle I, II e III), todas desenhadas à mão e povoadas com NPCs únicos.
Os visuais de Cuphead não são cheios de milhões de polígonos na tela impulsionados por engines de ponta como Unreal Engine 4 ou CryEngine. A arte do game é toda desenhada à mão e importada para o incrivelmente versátil motor gráfico Unity. O resultado é uma estética inspirada nos estranhos desenhos animados dos anos 30, especialmente aqueles do Fleischer Studios — conhecido por Betty Boop (1932), Popeye (1933) e de Walt Disney — em particular trabalhos como o curta Flowers and Trees (1932).
Apesar dos personagens, inimigos e projéteis da tela se moverem a 60 quadros por segundo para permitir as reações dinâmicas que seu gênero demanda, as imagens de fundo rodam nos mesmos 24 fps de animações da época. É um pequeno detalhe, mas que ajuda a constituir a impressionante fidelidade da arte do game. Jogar Cuphead é como jogar um desenho animado antigo — e dos bons. A única crítica que eu tenho aos visuais é que a própria história do game poderia ser contada através de animações. Vendo o resultado final, tenho certeza que a habilidosa equipe de animação e direção de arte do Studio MDHR teria competência para criar algo do tipo.
A trilha sonora é de autoria do músico de Jazz Kristofer Maddigan, que fez um trabalho sublime ao capturar as melodias tranquilas e fortemente baseadas em pianos que eram usadas nos desenhos da época trazendo o ar não só nostálgico, mas igualmente diferenciado do vimos em games hoje em dia. É uma das melhores trilhas sonoras que eu ouvi num game nos últimos anos.
A excepcional arte pode ser o que atrai os jogadores para Cuphead, mas o sua desafiadora e bem fundamentada jogabilidade no melhor estilo Run and Gun dos anos 90(no estilo o classico Contra) é o que faz a maioria ficar. O título é um side-scroller e, claro, tem vários elementos de plataforma.
O jogador é incentivado a passar a maior parte do tempo com o dedo segurando o botão de tiro, afinal a munição é infinita.
Tome o tempo que achar necessário para aprender como Cuphead funciona, mas com a plena consciência que nunca saberá exatamente como lidar com suas mecânicas. Sempre haverá uma surpresa e, em alguns momentos, tudo o que você treinou não servirá para nada, pois o game recompensa precisão e bons reflexos, pois o tempo todo há dezenas de elementos se movendo da maneira rápida pela tela. O que significa que é difícil sobreviver por muito tempo quando se joga um nível pelas primeiras vezes. O título é daqueles onde é preciso reconhecer o padrão de ataque do inimigo para então criar uma estratégia para combatê-lo. Quase o tempo todo, esses oponentes serão chefões, que compõem três quartos das fases do game. As batalhas contra eles funcionam em diferentes fases — geralmente um total de 3 ou 4 — onde esses ataques podem variar drasticamente. Os inimigos mudam para os estados mais absurdos, como um que morre e te ataca com sua lápide ou os sapos boxeadores que se transformam numa máquina caça-níquel. E então você precisa se adaptar novamente, o que significa morrer de novo.
Porem a dificuldade em nenhum momento é apelativa ou injusta(talvez algumas fases com plataformas flutuantes sejam o único ponto pra isso)sendo bem equilibrada e te fornecendo vários recursos para enfrentar os desafios.
O jogador tem acesso a 6 tipos de tiros com características bem diferentes, incluindo o padrão peashooter, que atira em linha reta e com dano médio. Se quiser trocar distância adicional por mais dano, use o Spread. Já chaser é um tiro que sempre acerta e tem longa distância, mas resulta em bem menos dano. Ainda dá para comprar 6 charms diferentes, que adicionam vida extra em troca de menos dano, ou te permitem ficar invulnerável durante um dash — de longe o mais útil deles — por exemplo. O jogador também ganha poderosos ataques especiais chamados Super Art ao bater cada um dos 3 Mausolea do game. Só é uma pena que isso tudo fique indisponível nos níveis onde você pilota um avião.
Apesar das batalhas levarem cerca de 2 minutos para bater, o game oferece umas 6 horas a 9 horas de gameplay, dependendo da sua habilidade. Afinal, você vai passar um bom tempo reiniciando as batalhas. O lado bom é que leva apenas cerca de 2 segundos para reiniciar as fases, então apertar o botão “retry” nunca se torna um grande problema. O mesmo não pode ser dito do tempo que leva para carregar o mapa e na primeira vez que você entra nas missões — ao menos no Xbox One.
Não há dúvidas de que a espera para Cuphead valeu a pena. O Studio MDHR entregou um trabalho espetacular e apaixonante, claramente cheio de dedicação, que agora ocupa um lugar único e insubstituível na história do gênero. Além de toda simpatia no visual, o game é recheado por chefões que oferecem algumas batalhas mais memoráveis que já presenciem em um game. Sua arte pode dar a impressão de um jogo amigável e fácil, mas não vá nessa. Se decidir comprar este jogo, faça-o com consciência de que está aceitando um dos maiores desafios do ano nos games !