Uma viagem não costuma ser tão longa a ponto de fazer um filme ser bom ou ruim, mas podemos ter certeza de que quanto menos tranquila ela for mais emocionante será o seu destino final. Inspirado no livro homônimo da renomada escritora Agatha Christie, esse que conta com uma maior quantidade de personagens e uma complexidade que precisa ser apreciada pelo público. Com a direção de Kenneth Branagh, responsável pelo live-action “Cinderella” de 2015, que também protagoniza ao lado de um elenco invejável. Seria interessante essa aposta da Fox Film no universo literário da autora que escreveu mais de 79 romances do gênero?
Muito antes desse, o livro deu origem ao filme de 1974, o que faz desse lançamento um remake com o intuito de eternizar uma geração que se alimenta do mistério envolta do Expresso do Oriente, e nesse caso o filme terá o desafio de agradar os cinéfilos, fãs do gênero suspense/policial e por último mas não menos importante, os leitores e fãs da obra de 1934. A sorte favorece a todos, pois o filme encontra uma forma de não soar cansativo pra quem já sabe e ao mesmo tempo se preocupa em prender a atenção de quem nem ao menos sabe que existe um livro.
A ambientação do ano de 1934 será um dos pontos positivos na trama, onde maior parte das cenas ocorrem dentro do luxuoso trem. Após o crime é perceptível que a trama ganha seu verdadeiro tom e abandona o humor inicial, se fazendo mais sombrio. O que o detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh) não esperava era ter de solucionar tal caso enquanto estiver na companhia do possível assassino. A partir desse momento se torna imprevisível e qualquer revelação nos fará retorcer na poltrona. Sem perder a oportunidade de lidar com temas como preconceito, desigualdade social e a busca por justiça, a trama se mostra interessada em trazer um pouco de cada.
O elenco de um modo geral atuou de forma competente e em parte não receberam a devida atenção por terem de dividir quase duas horas de filme entre eles. Além de Branagh, destaque para Lucy Boynton no papel da Condessa Andrenyi, Josh Gad como Hector MacQueen e Michelle Pfeiffer que interpreta a Senhora Hubbard. A presença de Johnny Depp mostra uma nova fase em suas atuações, talvez sendo seu papel mais “sóbrio” desde “Em Busca da Terra do Nunca” (2004). Daisy Ridley está encantadora como Mary Debenham, mostrando seu brilho antes mesmo de embarcar no trem. Por fim, Penélope Cruz (“Volver”) e Willem Dafoe (“Homem-Aranha” de 2002) não chegam nem perto do seu potencial, mas conseguem uma aceitável participação.
O filme se revela como uma peça de teatro com bons efeitos visuais, ou seja, preservando o drama britânico e tornando tudo mais vívido, ainda que falhe a partir de seu segundo ato, em que o filme parece se repetir. Também pesa o fato de haver mudanças de cenas um tanto abruptas. A criação do suspense foi bastante planejada e não entrega ninguém! Nem mesmo com o diálogo entre suspeitos, onde poderia ser mais fácil de se perceber algo. Uma das maiores referências é o momento em que todos os personagens sentados em uma mesa representam uma semelhança à pintura icônica de Leonardo DaVinci, “A Última Ceia”.
Com altos e baixos “Assassinato no Expresso do Oriente” reafirma a necessidade de mais filmes do gênero que sejam fruto de obras literárias, o que não só incentiva a leitura como também aumenta a ansiedade por possíveis sequências, e nesse caso tudo aponta para o livro “Morte no Nilo”. A viagem é longa, mas garanto que não sairá dos trilhos. Você quer, Agatha Christie?