Com traços marcantes, ‘O Homem que Foge’ é uma misteriosa fábula para adultos

João Fagundes
4 Min de Leitura

Muitos sentimentos podem ser expressos sem o uso das palavras e sem perder sua qualidade, por sorte isso vale também para os desenhos. Do mais simples traço de Natsume Ono saiu o mangá seinenNigeru Otoko“, um volume único conhecido como “O Homem que Foge” é uma oportunidade de mostrar ao público brasileiro mais do seu talento em criar essa obra que já foi definida por ela mesma como “um conto de fadas adulto”, ou seja, por esse motivo não será recomendado para menores de 18 anos. Serializado entre 2010 e 2011, finalmente recebemos seu material completo pela Editora JBC, que encontra nos one shots uma chance maior para vendas.

A história chega com um suspense envolvendo a antiga lenda urbana que é alimentada por adultos e crianças. Ao que parece ser um futuro não muito distante, sabemos que o ursos da floresta estão extintos e que só os mais jovens podem enxergar o animal ao chegar na floresta, o que gera um certo receio de entender mais do que é usado como uma desculpa para as crianças não entrarem em um lugar tão perigoso. Todos os personagens não possuem nome, mas são facilmente diferenciados, um ponto positivo para nos identificarmos com alguns. Nossa jovem protagonista chega em busca do urso que vive na floresta, com a certeza que quem acompanha o urso por um dia tem o direto de realizar um desejo.

Entre tantas superstições é impossível não associar a algumas que temos por aqui no Brasil, ainda mais por muitas serem próximas da religião e do misticismo. Além do uso da imaginação, a leitura é mais de observar os gestos que entregam uma densa narrativa, tão profunda que após uma rápida leitura das 200 páginas, será possível se sentir preso na floresta. Afinal, quem nunca se sentiu tão triste a ponto de fugir para um lugar que ninguém possa te fazer sofrer? Refletir sobre seus atos e enfrentar seus medos são as maiores lições que esse mangá pode trazer. Dividido em 5 capítulos que a princípio parecem aleatórios, logo se unirão e serão capazes de nos fazer sorrir com sua forma introspectiva de ser.

Uma outra história que caminha paralelamente conta a vida de um político deprimido que decide mudar de vida após um toque do destino. Para quem gosta de buscar uma possível inspiração da autora que possa ter sido utilizada nessa obra, a floresta de Aokigahara, também conhecida como “floresta dos suicídios” pode ser facilmente ligada a esse universo, mas não fica claro que se trate da mesma ambientação do mangá. A razão para associar ambas é o fato de poucos frequentarem essas florestas misteriosas. Para quem espera algo memorável, o conto não supera o mangá “Ristorante Paradiso” (2005), sendo esquecível em parte significante do conteúdo.

 

Ainda que seja uma característica da autora, os traços são expressivos e marcantes demais para quem espera traços simples e detalhes da forma mais convencional possível. Por ser um volume único, será de fácil leitura, e com a qualidade do seu material estará bem visto em uma coleção. É certo que Natsume sabe ser diferente dos demais mangakás, criando uma fábula moderna e sem parecer forçada, nem mesmo para justificar o “não recomendado para menores de 18 anos”. Com poucas palavras e muito talento, essa obra é tudo para quem quer fazer novas descobertas e se tornar criança novamente.

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Mais um Otaku soteropolitano que faz cosplay no verão. Gamer nostálgico que respira música e que se sente parte do elenco das suas séries favoritas. Aprecia tanto a 7ª arte que faz questão de assistir um filme ruim até o fim. É um desenhista esforçado e um escritor frustrado por ser um leitor tão desnaturado. É graduando no curso de Direito e formado no de Computação Gráfica. “That’s all folks!"
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