‘Fragmentos do Horror’ reúne oito contos surreais do mestre do terror japonês

João Fagundes
4 Min de Leitura

O primeiro mangá da editora Darkside Books não deixou a desejar. Sendo referência de obras com conteúdo sobrenatural, a aposta  no lançamento “Fragmentos do Horror” é certeira. Nele o mestre do terror japonês Junji Ito mostrará o significado da palavra “kowai” (assustador) para quem até mesmo não conhece seu trabalho de anos dedicado ao gênero. Mangaká de grandes obras como “Uzumaki – A Espiral do Horror” e “Tomie“, esse compilado de 2015 finalmente chega ao Brasil com capa dura e mais de 200 páginas revelando o conteúdo mais bizarro que nós respeitamos.

Reunindo oito contos, essa é a primeira coletânea de Junji em 8 anos. Seu último foi “Shin Yami No Koe Kaidan” de 2006, o que deixou seus fãs em grande ansiedade para ler mais de seus mangás. Os traços são tão detalhados e diferentes dos demais que encontramos atualmente. Bem, claro que existe uma diferença latente entre um autor que publica desde 1987 (sim, ele tem 54 anos) e os que fazem mangás hoje. Por mais medonha que seja a ilustração, ele sabe proporcionar uma beleza às avessas e combinada com um roteiro digno de filme, tanto que muitas de suas obras ganharam adaptações live-action.

 

De início, o primeiro conto de título “Futon“(para quem não sabe é aquele popular colchão japonês) é o mais curto, onde uma narrativa revela a importância de observarmos as mudanças de comportamento de nossos amigos, parentes etc. Na sequência entenderemos o termo “Monstro de Madeira“, um dos mais importantes contos do título. O terceiro conto é de fato o principal, tanto que o “Tomio – Gola Rulê Vermelha” ilustra a capa dessa compilação. Falando sobre a capa, perceberam a referência da pintura “O Grito“de Edvard Munch? Pois é, uma arte visitando outra.

Passando do doentio para o fofo, temos em “Suave Adeus” uma representação que muitos gostariam de ter em suas vidas, mas o problema é que tudo toma proporções assustadoras. Esse é o toque de Ito em seus materiais, ele mistura o bem e o mal, fazendo com que não consigamos definir um personagem completamente. Lembrando que para um bom terror precisa ter uma dose de psicopatia temos a bela “Dissecação-Chan“, um romance obsceno, assim como todos os momentos que vemos mulheres maduras e sabemos que haverá nudez. Em “Pássaro Negro” encontraremos uma forma inusitada de sobreviver e morrer. Qual a vantagem disso?

O penúltimo conto se chama “Magami Nanakuse“, que é o nome de uma escritora brilhante e estranha que decide receber uma fã obcecada em sua casa. Como dizem, “os últimos serão os primeiros”, aqui é verdade, por dois motivos: esse mangá segue a leitura oriental (o famoso “de trás para frente”) e também por “A Mulher que Sussurra” se tratar do melhor conto de conclusão possível. Sério! As histórias serão breves, mas deixam uma marca inconfundível quando nos lembrarmos desse mangá, o medo. Já que ele pode estar em qualquer lugar.

Obrigado Darkside! Como sempre o acabamento faz de “Fragmentos do Horror” uma edição digna de coleção. Que venham mais edições de mangás tão caprichadas assim.

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Mais um Otaku soteropolitano que faz cosplay no verão. Gamer nostálgico que respira música e que se sente parte do elenco das suas séries favoritas. Aprecia tanto a 7ª arte que faz questão de assistir um filme ruim até o fim. É um desenhista esforçado e um escritor frustrado por ser um leitor tão desnaturado. É graduando no curso de Direito e formado no de Computação Gráfica. “That’s all folks!"
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