Na última segunda-feira, 7 de março, aconteceu a estreia da oitava temporada de RuPaul’s Drag Race. O programa celebrou um marco importante: a série comandada por Rupaul completou 100 episódios exibidos e a passagem de 100 drags queens.
Para esta ocasião não passar despercebida aqui no site, e na tentativa de fugir de matérias especiais que sempre tratam de curiosidades do programa, pensei, por que não fazer uma matéria indicando drags da minha cidade? Então, contatei três drags de Salvador e elas me contaram um pouco de suas histórias.
Mas antes de tudo, aviso que a matéria não visa hierarquizar que alguma seja mais importante que a outra, ou menosprezar as drags que não pude incluir. O cenário da nova geração drag de Salvador vem crescendo de forma bem significativa, e desse grande leque tirei três drags que brilham em suas apresentações, seja em boates, concursos ou na vida. Preparados? Saca só as três queens escolhidas:
SPADINA BANKS
Garoto do interior, Douglhas Nassiffe veio a Salvador para estudar, e em uma apresentação de Drag que assistiu, nasceu o desejo ser uma também. Mas naquela época, ele estava lidando com questões de se assumir gay e de se empoderar. Além do medo de críticas, julgamentos e do que as pessoas poderiam pensar, Spadina ainda não tinha força para surgir. Mas em uma viagem a Toronto (Canadá), em 2014, algo mudou.
“Eu entrei em contato com uma sociedade em que a diversidade é de fato respeitada e daí eu comecei a testar meus limites e experimentar ser quem eu realmente sou. Logo foi só uma questão de tempo até eu por um vestido, uma peruca e sair na rua dando close” disse.
O apoio dos amigos foi essencial para a existência de Spadina. Ela teve ajuda desde o começo dos amigos, e um em especial que a ajudou. “Eu comecei a planejar meu “nascimento” com meu amigo Felipe, e a gente foi pensando e preparando tudo, e no primeiro dia que nos montamos eu entendi que não faria sentido eu fazer aquilo só, eu tava feliz porque ele estava lá também”.
Após a primeira montação várias amigas lhe doaram desde acessórios a maquiagem, e esse apoio dado por essas pessoas é uma espécie de suporte de força quando Spadina tem dúvida sobre si mesma.
“Só queria aproveitar o espaço e agradecer muito a todxs eles e dizer que xs amo!”.
O primeiro desafio de Spadina, e um tanto engraçado, foi o fato de ela não conseguir achar um salto tamanho 42, que acarretou na demora de sua primeira montação. Além disso, o preconceito foi outro desafio. “Eu acredito que só o fato de não ser heteronormativo já gera muito preconceito, aí quando se soma ao fato de que me monto é bem complicado de assimilar. Antes eu via como um problema que não era meu, já que de fato eu estou apenas expressando minha arte e não faço nada negativo, mas depois eu entendi que também me cabe a educar a família” relata.
Hoje, Spadina Banks participa de um coletivo de drags, a Haus Of Gloom, na qual estão preparando coisas novas para este ano. É Dj na festa MilkShake, que acontece na boate Amsterdam e deve se apresentar algumas vezes no Beco dos Artistas, em um novo projeto que visa a recuperação do beco.
CONVITE: Spadina convida a todos irem ao Âncora do Marujo, na Av.Carlos Gomes, que é um bar no qual há muito tempo é um local de resistência e que abriga a arte do transformismo de terça a domingo.
“É importante conhecer se você aprecia as drags de salvador. Conhecer só as drags americanas e do Sul que bombam na internet não vale. Conheçam mais os artistas da sua cidade e eu posso dizer que elas são incríveis. Sou fã de muitas”.
Spadina Banks – 2AM/PoisonA nossa Spadina Banks arrasou performando na Freak, semana passada (07/11)!Seu look foi livremente inspirado na Hera e ela performou um medley de 2AM (Astrid S) e Poison (Nicole Scherzinger) e foi TIROOOOO!!!Vejam com os próprios olhos!Parabéns, Dina, You Go Girl!
Publicado por Haus Of Gloom em Segunda, 16 de novembro de 2015
EUVIRA EUVIRA
Há pouco mais de dez meses Euvira surgiu na cena drag de Salvador com apresentações carregadas de empoderamento e militância. Com pai militar e mãe evangélica, Euvira dá voz e, como a própria diz: “representatividade a bichas pretas periféricas e afeminadas”.
As dificuldades que Euvira possui, são as mesmas que as outras drags nesta matéria e que a maioria tem, o retorno financeiro desigual em suas apresentações.
“A maior dificuldade é o cachê irrisório que recebemos dos nossos contratantes. Se montar custa muito caro e quase ninguém se importa com isso” desabafa.
O objetivo de Euvira através de sua arte drag é poder contribuir pra que cada vez mais as drags negras de Salvador tenham mais visibilidade e valorização. Sem dúvidas o seu trabalho vem demonstrado isso e muito mais.
Abaixo assista Euvira performando “Tango do Mal” de Simone Mazzer, no Âncora do Marujo.
Tango do Mal – Simone Mazzer“Eu vou jogar um tangoNa sua cara de bolero comedido”#DragQueen #DragQueer #DragBarbead #Queer #LypSinc #Euvira #AncoraDoMarujo
Publicado por Euvira Euvira em Terça, 8 de dezembro de 2015
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MALAYKA SN
Malayka é uma drag que foge totalmente do tradicional. Ama formas performáticas de expressão e se considera uma entidade psicodélica e irreverente. É uma drag no estilo Club Kids que ama debates, problematizações, de pensar o impensável e falar de coisas que as pessoas não costumam dizer.
Sua produção é composta por coisas que provavelmente ninguém pensaria em usar como maquiagem. “Minha maquiagem é de reciclagem, vejo um brinco quebrado daqui, um pedaço de pano daqui, papel, tinta, renda, mais papel, mais bijuteria barata, glitter, mais glitter e pun! Nasceu. Então não tenho problemas reais com manutenção da drag nesse sentido” enfatiza.
Sobre sua sobrevivência ela relata que é frustrante não receber para trabalhar em alguns lugares e mais algumas dificuldades:
“Acham que uma pulseira de VIP de uma festa vai pagar suas contas, ou te fazer popular é sinônimo de te fazer se sustentar. Manter uma drag tem várias dificuldades, o psicológico pra mim é uma das partes mais difíceis, o resto a gente vai conquistando”.
O preconceito também faz parte do cotidiano de Malayka, vindo de pessoas desconhecidas ou próximas, ela possui uma forma própria de pensar sobre ele: “Eu nunca fui agredida por meus familiares ou amigos de forma intencional, eu prefiro acreditar nisso. Pensando na sociedade que nos foi apresentada, onde patologias sociais como a homofobia, gordofobia, machismo, transfobia, misoginia e uma série de outros termos, temos reprodutores de ideologias que fazem com que toda pessoa passe por um tipo de julgamento inerente a uma característica sua enquanto sujeito. Com base nesse sistema em que somos criados, não tem como escapar dos julgamentos. Precisamos educar as pessoas, por mais que isso nos custe uma série de perdas.
Sobre as formas de apoio que recebe, ela considera que as pessoas que não estão contra o novo, acabam lhe apoiando de alguma maneira. Mas em especial, existem pessoas que a acompanham desde o início.
“Agradeço aos meus amigos de verdade da Escola de Belas Artes, a Euvira, a Mamba Negra, ao pessoal da Casa Antuak, Alan Costa, Nina Codorna e Rainha Loulou. É muita gente de coração aberto… e do fundo do meu coração a Mandy (Amanda Caria) que me deu minha primeira “maquiagem” e me incentivou primeiro a ser quem Malayka é”.
Já ouviu falar de Malaykalândia? É o projeto futuro da Malayka. Ela o idealiza como uma Night Club que consequentemente será sua casa e abrigaria pessoas de vários “rolês” como à própria diz e de situações diversas. “O nome da casa será “Sodoma – A cidade do Pecado”. Tenho vontade que seja num subsolo de um prédio antigo e funcione num esquema de ceita louca que as pessoas irão para experimentar outras formas de existir no mundo, fora da lógica cotidiana que encaramos”complementa.
Além de idealizações, Malayka estará nos meses de março e abril, participando do Grand Prix, um concurso de responsabilidade da Rainha Loulou, no Beco dos Artistas (na revitalização e ocupação do mesmo por parte de um edital local). E costuma aparecer nas terças ou domingos no Bar Âncora do Marujo a convite da Dama Euvira ou da Rainha Loulou, respectivamente.
Confira Malayka performando em homenagem à Mariene de Castro. Vídeo por Gabriel Oliveira. Festa Afrobapho, Amsterdam Pop Club.
Malayka SN performando em AfroBapho – A FESTANa sexta-feira (04/03) rolou a primeira edição de AfroBapho – A FESTA! Um dos principais atrativos do evento, consistiu em performances elaboradas por artistas lgbtq negros de Salvador-BA.Uma das atrações da noite, Malayka SN é um estado performático soteropolitano, uma entidade queer, avassaladora e intempestiva, agressiva e radical. Não se importa nem um pouco com as whitetears. Por ser um estado, está suscetível a repentinas ou duradouras mudanças. Malayka SN é símbolo de resistência e protesto contra opressões hegemônicas. Em sua performance na festa, Malayka se doou por inteiro numa homenagem à Mariene de Castro. Vejam esse lacre:Video por Gabriel Oliveira
Publicado por Afrobapho em Domingo, 13 de março de 2016
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Estas artistas nada mais são que uma pequena amostra do que Salvador tem e pode oferecer de cultura drag/transformista. Prometo que muito em breve farei um post semelhante apresentando mais queens, mas por enquanto deixem nos comentários as suas drags favoritas, seja ela de onde for.
Ps: Seja fabuloso!