Em meio a essa onda de produções nostálgicas, tais como Stranger Things e It: A Coisa, nos vemos sedentos por mais conteúdos que afaguem nossos corações órfãos da década de 90. Sentimos falta das grandes obras roteirizadas por John Hughes (recentemente até referenciadas no filme Homem Aranha: De Volta ao Lar), dos clássicos de Sessão da Tarde, dos programas da MTV. Tudo isso reverbera em boas recordações da nossa infância e juventude, em que ficávamos sentados imersos diante de uma televisão de tubo. Se possível, entraríamos no DeLorean do Dr. Brown e revisitaríamos essa década marcante.
Bateu a saudade? Foi no intuito de nos transportar para esse amado passado que o designer Lúcio Guimarães e o jornalista Igor Marques, lançaram na FIQ – Festival Internacional dos Quadrinhos, deste ano, a HQ Indomável. Ambos integram um grupo de quadrinistas, o Carrapato Estrela, sediado em Belo Horizonte. Como grandes fãs da cultura vigente nos anos 90, inspiraram-se nessa década de plena ascensão dos animes na TV aberta e regada ao estilo musical pop punk com clipes psicodélicos, para criar essa história que narra as aventuras de uma garota rebelde, cheia de humor ácido e boa de briga.
Na HQ, a ambientação traz uma atmosfera tensa, com brigas em bares e ruas, assaltos durante o dia e muito, mas muito palavrão. Somos apresentados à Malu, uma menina que esgota em poucos minutos o rol de palavrões existentes. Segundo Lúcio Guimarães, um dos criadores, o objetivo era trazer “algo de Hermes e Renato e com vários elementos de mangás battle shounens“. A história é recheada com cenas de luta bem ilustradas e é fácil simpatizar-se com a Malu, uma anti-heroína que nos diverte com seu jeito despretensiosamente amoral.
As ilustrações mostram a excelência dos criadores em usar recursos gráficos para causar emoções nos leitores, como uma cena em particular quando a Malu recebe um sermão do Tião e o balão de falas dele é parcialmente ocultado pela figura dela enchendo um copo com bebida, passando para nós a sensação de que pouco ou nada do que ele disse foi ouvido pela garota. Em vários momentos, cenas tomam a página inteira nos fazendo sentir a perplexidade e ansiedade das personagens diante do ocorrido. O estilo inconfundível dos mangás se faz presente nessa obra, notado pela grande expressividade nos olhos de cada um em cena e pelos recursos gráficos que embebem as cenas de ação.
Uma HQ divertida, recheada de referências nostálgicas e com uma personagem controversamente cativante. Vale muito a pena conferir e se entreter com as desventuras de Malu.